Clã dos Lobos
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Mensagem por Og Qui 20 Fev 2014, 4:56 am


Christopher Alexander Reynolds



- Background


Eles escolheram se sentar numa mesa afastada no Butter’s Coffee, para que o ruído das demais conversas não atrapalhasse a entrevista. A repórter demonstrava ânsia, visto que sequer esperou o café ser servido para sacar seu bloco de notas.

- Podemos começar? – perguntou, mas sem esperar por uma resposta – Primeiramente, como é a sensação de ser acolhido por um milagre?

- Perdão, milagre? – respondeu o jovem, ajeitando seus óculos de aro grosso no rosto, olhando desatento para as atividades de uma garçonete próxima.

- Sim, a sua cura. Como você sabe, todos os meios de mídia estão falando do seu caso. A única explicação plausível é a de um milagre, como muitos acreditam – a repórter certamente estava determinada a justificar o título polêmico e religioso que pretendia dar à matéria da entrevista.

Christopher a olhou com um sorriso debochado no canto da boca.

- Oras, o meu caso não foi o primeiro do tipo. Basta pesquisar e verá que há muitos casos por aí de pacientes com sérias doenças que se curaram sozinhas. Existem até mesmo casos de AIDS nesse sentido. Meu câncer foi só mais um. As pessoas simplesmente gostam de utilizar todo tipo de acontecimento incomum para reafirmarem a possibilidade de “milagres”.

- Tenho ciência de casos semelhantes, mas nenhum como o seu. Você estava em estado terminal, os médicos já haviam desistido de seu tratamento e estavam apenas lhe dando medicamentos para diminuir o sofrimento. Um tumor não some de um dia pro outro, e nenhum meio científico conseguiu explicar a sua cura até hoje. O que mais poderia ser? – a repórter indagava, insistente.

- Não é só porque a ciência não tem explicação que devemos assumir um fato divino. No passado as pessoas acreditavam que os deuses traziam o dia e a noite, que a vontade deles fazia os trovões caírem dos céus. A ciência só não achou uma explicação para a minha cura ainda. Talvez seja um efeito do medicamento com a minha carga genética, ou o meu tumor era diferente do usual, mas de detecção semelhante.

- Ainda assim...

- Olha, – o rapaz disse, interrompendo a repórter – eu sinceramente imaginei que essa entrevista teria algum cunho científico, mas vejo que você vai insistir em levar nossa conversa para o lado religioso até que tenha algo supostamente interessante para escrever na matéria. Acho melhor pararmos aqui, antes que comecemos a ofender nossa própria inteligência.

Ele levantou-se, deixando alguns trocados sobre a mesa.

- Boa tarde.

A repórter continuou sentada e calada, incrédula, enquanto o rapaz caminhava para fora do café. Enquanto seu pedido era servido, olhou para seu bloco de notas, refletindo sobre a conversa.

Christopher decidiu voltar para a casa caminhando dessa vez. Ele nunca havia feito aquele caminho a pé, e seria bom conhecer um pouco mais de Boston. Soava irônico em seus próprios pensamentos: conhecer um pouco mais do lugar onde nasceu e viveu toda a sua vida? Enquanto caminhava, percebeu o quão pouco conhecia da própria cidade. “O que estive fazendo durante esses últimos dezoito anos?” questionou-se. Era hora de finalmente reparar um pouco mais nas pessoas, perceber lugares para onde gostaria de ir ao menos uma vez.

Em sua reflexão, o rapaz começou a se sentir mal por ter deixado a repórter de forma tão grosseira. Qual era mesmo seu nome? Jane, ela havia citado na ligação na qual o convidara para a entrevista. Jane não merecia sofrer as consequências por toda a irritação que as entrevistas vinham lhe causando, mas Christopher era cético demais para ouvir toda aquela baboseira uma vez por dia. Talvez ela o perdoe e entenda seu estresse.

Depois de algumas horas, finalmente chegava em casa. O sol já estava se pondo, imenso por trás da mansão em que morava. A casa era situada em um dos bairros residenciais mais nobres de Boston, com uma arquitetura voltada para clara ostentação. Apesar do conforto, olhar para o seu lar lembrava a Christopher de toda a responsabilidade imposta a si mesmo, e nada fazia aquilo valer a pena. Não desde dois meses atrás.

Por hábito, deixou seus sapatos ao lado da porta da casa e foi direto ao seu quarto. Agradeceu por não ter passado por nenhum dos funcionários da mansão pelo caminho. Não que tivesse algum problema com qualquer um deles, mas sim vergonha pela maneira que os tratava até algum tempo atrás. Como a vida havia lhe ensinado lições valiosas, refletiu.

Ao chegar em seu quarto, deparou-se com uma surpreendente visita.

- Pensei que já haviam desistido de me convencer – disse, com as sobrancelhas levantadas e sorriso no canto da boca, aquela expressão debochada que todos conheciam bem. Christopher ajeitou seus óculos com o dedo indicador entre os olhos e foi em direção a uma grande mala aberta perto de sua cama.

Sua irmã estava sentada na poltrona da escrivaninha, obviamente o esperando. Como Christopher e o irmão mais velho, ela tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Não aparentava ser tão mais velha do que seu irmão caçula, que agora sentava na cama e olhava para a sua mala vazia no chão.

- E eu pensei que nada te faria desistir a esse ponto, mas ver você olhando com tal desânimo para sua mala me deixou em dúvida.

Maryann tinha o olhar penetrante de sempre, aquele olhar que parecia sempre julgar detalhes de todos em sua volta. Contudo, dessa vez havia algo diferente. Parecia ser sua voz. Parecia engasgada, mais suave do que o usual. Será que ela realmente veio em paz dessa vez?

- Não é desânimo. Só estou pensando o que realmente vale a pena levar. Ou melhor, quais livros.

- Chris... Você sabe que nossos pais não blefam. Você tem apenas dezoito anos, ainda pode mudar de idéia muitas vezes. Se você for, sabe que não terá mais o suporte deles. São pouquíssimas as pessoas que podem fazer medicina em Harvard. Mesmo com toda a sua proeza, não é fácil conseguir uma bolsa integral. Você vai jogar isso fora por...

- Mary, não é essa a vida que eu quero. Já está decidido. Merda, quando eu estava deitado naquela cama do hospital esperando pela morte, eu me questionei o que vivi até então – Chris olhou para um mural na parede de seu quarto com todo tipo de troféu e medalha de campeonatos estudantis, títulos de melhor aluno, entre outros prêmios adquiridos com seu vasto conhecimento e estudo – Foram dezoito anos assim. Chega. Eu não vou mais dedicar a minha vida para agradar pessoas que não vão viver por mim, por um futuro que eu não desejo, para sustentar uma riqueza que eu não almejo.

Maryann engasgou e seu olhar penetrante vacilou por alguns segundos. Christopher continuou.

- Você viu algum amigo me visitando no hospital, minha irmã? Você consegue imaginar alguma história da qual eu poderia me orgulhar antes de morrer? O único culpado disso sou eu. Se você e nosso irmão são felizes seguindo o caminho de nossos pais, se ser médico por Harvard é o futuro que vocês almejam, parabéns. Mas não é o que eu quero pra mim. A Boston University é uma excelente oportunidade para eu conhecer pessoas de todas as diferentes origens, ter experiências e aventuras diferentes, poder viver um pouco tudo aquilo que só conheço pela leitura. E sociologia é uma excelente desculpa para que eu possa fazer um curso utilizando de um conhecimento que já possuo, estudar por livros que eu já leria independente da universidade.

A garganta de Christopher estava seca por conta do monólogo, mas não havia maior satisfação do que aquele desabafo. Aqueles pensamentos estavam presos há muito tempo em sua mente.

- Mary, eu vi a morte de perto há pouco mais de um mês e tive uma segunda chance. A partir de hoje, eu vou viver o que me interessa. Amanhã as aulas começam, e lá há uma nova vida pra mim.

A surpresa veio quando Maryann subitamente permitiu aparecer um sorriso em seu rosto.

- Já consegui o que eu queria aqui, Chris. A confirmação de sua convicção – ela se levantou e foi até as três prateleiras enfileiradas em uma das paredes do quarto de seu irmão. Passando a mão pelos livros, escolheu um que estava com a capa já gasta, pegando-o e entregando ao seu irmão – Talvez queira levar esse. Lembra que te dei quando ainda era uma criança? É para lembrar que você pode contar comigo.

Christopher pegou o livro devagar. Passou a mão pela capa gasta e olhou por cima do óculos para sua irmã, que estava de pé ao seu lado.

- Oras, Mary. Eu tinha esquecido que você tinha sentimentos. Ou isso tudo é piedade com a ovelha negra da família? – Brincou, com seu sorriso debochado de sempre.

Foi então que Maryann percebeu que tudo que tinha sobrado do irmão desde dois meses atrás era apenas sua paixão por livros e seu sorriso inconfundível.
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