Christopher Alexander Reynolds [Journal]

Primeira sessão.


Eu sei. A idéia de um diário é tão... antiquada. Mas eu prometi a mim mesmo que escreveria minhas experiências aqui para algum dia ler e saber que minha vida valeu a pena, então é melhor começar isso logo.

Enfim, o primeiro dia da Boston University. As aulas ainda não começaram, mas achei que seria pertinente conhecer o campus e os alojamentos junto de todos os outros alunos.

Para ser sincero, a recepção foi bem desagradável. Arrependi-me de trazer tantos livros, pois minha mala pesava mais do que eu aguentava carregar e a falta de organização da comissão de recepção dos calouros me manteve bastante tempo ocupado andando de um lado para o outro, procurando o responsável por me apontar meu dormitório.

Foi nessa atividade que um dos veteranos me chamou bastante atenção: Marilyn. Loira, bela, inteligente, arrogante. Uma completa vadia. Racista, para completar. Diante de tamanha arrogância, procurei saber o que alimentava tal senso de superioridade e descobri que a Barbie, além de possuir contatos em Washington, trabalha em um projeto científico de grande porte para a Universidade. Qual era mesmo a área dela? Ah, biologia molecular. É, eu preciso aprender a controlar minhas reações às vezes. Às vezes. Talvez algum dia eu lhe dê uma licão de humildade... Ou aponte as falhas no projeto dela.

Após algum tempo eu encontrei a veterana responsável pelo meu alojamento. Seu nome é Winona, e confesso que ela não tem uma das mentes mais rápidas do lugar. Mas, droga, é um doce de pessoa. Enquanto ela tentava, de forma falha, reunir todos os calouros de sua lista, uma garota decidiu ajudá-la, outra caloura. E foi assim que a Sam ficou famosa em seu primeiro dia na BU.

Enquanto Sam berrava pelos nomes na lista, a Barbie da Síntese Proteica decidiu aparecer e utilizar da situação para demonstrar de uma vez por todas a sua posição social. Não vou entrar em detalhes, mas o clima ficou pesado quando Sam segurou no braço de Marilyn e esta ameaçou a caloura. Fiquei sabendo que algumas horas depois o campus inteiro estava chamando a Sam de Rock, Hulk, ou coisa parecida. Há algo possivelmente mais divertido do que se envolver com alguém assim?

Finalmente, quando a poeira abaixou, fomos levados aos nossos dormitórios. Apenas deixei minha mala por lá e fui correndo até a biblioteca gigantesca do campus de humanas. Meus pais realmente não blefam, e vim com dinheiro contado, contando com um emprego. Tentei a sorte, mas ainda não recebi uma resposta. Como eu espero trabalhar naquele lugar... Nada como estar cercado pelo que você é apaixonado.

Foi então que percebi que, em minha exaltação, nem sequer me preocupei em conhecer as pessoas que domiriam no mesmo quarto que eu por pelo menos um ano. Torci para que pudesse encontrá-los durante o almoço. Como eu imaginei, não foi difícil achar um deles: um inglês que chegou vestindo um terno e uma gravata um tanto extravagante. Sentei ao lado dele e, para minha surpresa, ele estava junto da Sam. O inglês era de poucas palavras, mas pelo menos aderia às minhas brincadeiras. Sam, por outro lado... Ela parecia um tanto melancólica. Em uma de nossas conversas, percebi que ela buscava o mesmo que eu aqui: um recomeço. Se ela se abrir mais um pouco com o tempo, talvez possamos encontrar isso juntos.

Durante o almoço, uma figura curiosa surgiu. Não me lembro de seu nome, mas ele parecia conhecer a Sam e tinha prazer em irritar todos em sua volta. Apesar de achar suas brincadeiras divertidas, confesso que as julguei exageradas. Sinto que ele age assim para disfarçar alguma coisa. Eu sei, eu tenho essa mania irritante de analisar as pessoas.

Como já era de se esperar, pouco depois do almoço começaram os papos de festa. Um tipo de celebração dos calouros num pub próximo, o Lands Downe. Enquantos muitos aproveitavam o tempo se arrumando para a festa ou já bebendo no pub, decidi conhecer um pouco mais do dormitório e organizar minhas coisas. O inglês foi para o quarto comigo, mas o outro calouro já não estava mais lá, e não apareceu durante todo o restante do dia.

À noite, fui ao Lands Downe junto do meu companheiro de quarto. Ele é ausente demais, me parece. Aparenta analisar as pessoas constantemente. Mas ele me deu uma carona e pagou pela minha cerveja, e por isso eu agradeço.

No pub, encontrei novamente o rapaz que gosta de irritar as pessoas, e parece que ele estava com uma nova vítima. Inesperadamente, encontramos a Sam, sentada sozinha. Decidimos nos juntar e ficamos todos na mesma mesa, e logo chegou também Winona. Foi então que descobri os fatos da Barbie de Ouro e percebi os detalhes que já citei sobre a Sam. Winona também nos falou sobre outros lugares da cidade, bem como alguma besteira sobre pessoas desaparecidas em algum deles, mas não prestei muita atenção. Já esperava pelas lendas urbanas universitárias.

Infelizmente, como esperado de uma mesa onde todos se conhecem tão pouco, logo ficamos sem assunto e decretou-se o tão temido silêncio constrangedor. Eu já estava no meu terceiro copo de cerveja, então acho que por isso topei tão facilmente a idéia da Sam de ir para outro lugar, mais especificamente o dos tais desaparecimentos. Ela deve gostar dessas besteiras. Winona pareceu temerosa e decidiu ficar, mas todos o resto foi conosco. Quando percebi, já estava na garupa de uma motocicleta, partindo do Lands Downe.

Você queria aventuras, não deixe uma motocicleta te intimidar logo de cara. Se está ruim para você, imagine para a Winona, que acredita em histórias de pessoas desaparecidas.